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Água com cebola elimina parasitas do intestino?

16 Jun 2023 - 10:56
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Água com cebola elimina parasitas do intestino?

A água com cebola é apresentada nas redes sociais como uma receita caseira supostamente eficaz a eliminar parasitas do intestino

Numa publicação partilhada num grupo do Facebook com mais de seis mil membros explica-se que para fazer este preparado se deve começar por picar “seis cebolas vermelhas” e colocá-las num recipiente “com água suficiente para cobri-las”.

Depois, aponta-se, deve-se deixar repousar esta mistura durante a noite e beber “um copo com o estômago vazio” na manhã seguinte. No mesmo post, defende-se que este suposto “tratamento” deve ser feito durante “uma semana” para eliminar os “vermes indesejáveis” do intestino.

Mas será verdade que beber água com cebola elimina parasitas do intestino? E o que são parasitas?

É verdade que a água com cebola elimina parasitas do intestino?

água com cebola

Ao Viral, Ana Célia Caetano, gastroenterologista do Hospital de Braga e professora da Escola de Medicina da Universidade do Minho, esclarece que “não há evidência” de que a água com cebola, “por si só”, elimine parasitas intestinais.

Segundo a especialista, a cebola é um “alimento rico em vitaminas e com propriedades antioxidantes”, o que lhe confere um “papel “anti-inflamatório e anti-infeccioso” e talvez por isso tenha sido associada a “fórmulas caseiras” utilizadas ao longo de séculos.

No entanto, adianta, os parasitas são eliminados com a toma de um “antiparasitário adequado”, que deve ser complementado com “medidas de higiene e alimentares de todo o agregado familiar”.

Apesar de a ingestão de água com cebola, “em princípio, não afetar a saúde de uma pessoa”, a adoção de outras medidas pode ter um “impacto positivo maior”, aponta a médica do Hospital de Braga.

Estas medidas passam, por exemplo, por consumir “água engarrafada ou fervida” em viagens para países em desenvolvimento (onde os parasitas intestinais são mais comuns), lavar frequentemente as mãos, “evitar comer carnes mal cozinhadas” e consumir peixe cru “previamente congelado”.

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Embora a água com cebola não tenha efeito na eliminação de parasitas dos intestinos, a médica ressalva que é habitual associar-se tratamentos médicos a “ajustes alimentares” no caso de outras patologias intestinais.

Por exemplo, é frequente comer-se sopa de arroz em casos de gastroenterite ou banana para “reduzir a diarreia”. Por outro lado, é também comum aconselhar-se o consumo de “legumes verdes”, como grelos e feijão verde, para melhorar casos de obstipação.

Mas, afinal, o que são parasitas intestinais?

parasitas intestinais

Ana Célia Caetano explica que há vários grupos de parasitas intestinais, como os protozoários, os helmintas e os ectoparasitas. 

Os dois primeiros exemplos são também apontados, no editorial “Human Intestinal Parasites”, assinado pelo cientista Rashidul Haque, como os principais parasitas nos países em desenvolvimento, que alastram, sobretudo, devido à “rede de esgotos pobre” e à qualidade da água. 

Já em países desenvolvidos, os protozoários são os que mais causam infeções gastrointestinais, refere o mesmo texto.

“Os que são mais frequentes são os áscaris e as ténias (longos), os anisakis (frequentemente associados ao consumo de sushi) e os oxiurius ou enterobius”, acrescenta  a médica ouvida pelo Viral.

Os parasitas intestinais são frequentes e, por isso, um “grave problema de saúde pública”, sobretudo em países em desenvolvimento.

De acordo com a gastrenterologista, provocam diarreia, distensão, desconforto abdominal e emagrecimento, sendo o sintoma mais comum o “prurido anal” (comichão no ânus).

Apesar dos sintomas, os parasitas são, por norma, “bem tolerados”, de acordo com um texto explicativo do projeto Metis, da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto.

No mesmo texto diz-se ainda que o diagnóstico costuma ser confirmado através de análise às fezes, que devem ser recolhidas durante três dias consecutivos. São “raras as situações” em que é possível observar “os parasitas ou parte deles”, refere-se no Protocolo de parasitoses intestinais da Sociedade Portuguesa de Pediatria.

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As pessoas são expostas com frequência a parasitas devido à ingestão de água, carne ou peixe cru contaminados, avança a professora da Escola de Medicina da Universidade do Minho. 

Pode também haver “transmissão pessoa-pessoa” e, por isso, é normal existirem “vários casos numa família, creche ou lar”, esclarece.

Em Portugal, a presença de parasitas nos intestinos da população foi “diminuindo progressivamente” com a melhoria das condições de higiene e, por isso, já não se justifica “desparasitações anuais de rotina”, como aconteceu em décadas passadas, refere-se no texto do projeto da Universidade do Porto.

Esta ideia é reforçada no Protocolo de parasitoses intestinais, que aponta para uma taxa de “parasitismo intestinal baixa” em Portugal.

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Este artigo foi desenvolvido no âmbito do European Media and Information Fund, uma iniciativa da Fundação Calouste Gulbenkian e do European University Institute.

The sole responsibility for any content supported by the European Media and Information Fund lies with the author(s) and it may not necessarily reflect the positions of the EMIF and the Fund Partners, the Calouste Gulbenkian Foundation and the European University Institute.

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16 Jun 2023 - 10:56

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